Selic menor puxa queda das principais linhas de crédito pessoal

Desde outubro de 2016, o Banco Central (BC) vem realizando sucessivos cortes na Selic. Nesse intervalo, ela saiu de 14,25% para 5,5% ao ano, e deve cair mais hoje. Como essa é a taxa básica da economia, os juros dos empréstimos tendem a acompanhar seu movimento. E foi isso que aconteceu com as principais linhas de crédito pessoal, ao longo do atual ciclo de cortes.

A Selic caiu 8,7 pontos percentuais desde 2016. No mesmo intervalo, seis das nove linhas de crédito avaliadas pelo Valor tiveram corte nos juros maior do que a Selic: cheque especial, crédito pessoal não consignado, consignado do setor público, consignado do setor privado, aquisição de outros bens e cartão de crédito rotativo.

No rotativo, no entanto, a queda não foi puxada por cortes da Selic. A principal explicação vem das mudanças feitas nessa linha. Em junho de 2018, o BC acabou com a cobrança de juros diferenciados para o crédito rotativo regular (quando se paga o mínimo da fatura do cartão) e não regular. Desde então, a taxa é uma só, a do regular, em geral mais baixa.

As linhas de consignado para aposentados e pensionistas do INSS e empréstimos para aquisição de veículos caíram menos do que a Selic no intervalo. Já o parcelado do cartão de crédito chegou a subir no mesmo período.

Para Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a mudança vista nas taxas de juros era esperada, já que, com a queda da Selic, os bancos passaram a pagar menos para captar dinheiro. Ele lembra, porém, que a Selic não é o único componente que interfere no “custo” dos empréstimos.

“A Selic é a taxa que os bancos pagam para captar recursos. Só que acontecem várias coisas no meio do caminho até eles emprestarem o dinheiro. O preço final do empréstimo pode não cair tanto, porque tem custos de logística, salários e outras fatores que podem interferir no processo”, diz, referindo-se ao “spread” — diferença entre o custo de captação e a taxa do empréstimo. Além dos juros, nessa conta entram o lucro dos bancos e outros fatores como inadimplência. Quanto maior a taxa de calote, maior o risco para o banco emprestar. Assim, ele tende a cobrar mais para “se proteger”.

Na conta do spread, o banco também leva em consideração componentes como custos administrativos e operacionais, tributários (impostos cobrados sobre os lucros) e aqueles associados aos depósitos compulsórios, recursos que os bancos devem manter no BC como uma espécie de garantia, um colchão de liquidez para a economia.

Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, mesmo com os cortes, tomar crédito no Brasil ainda é muito caro. Segundo o professor, os empréstimos só devem baratear quando a concorrência no setor de fato aumentar, o que deve acontecer somente com o chamado “open banking”, que permitirá o compartilhamento de dados financeiros de correntistas com outras instituições, desde que haja consentimento do cliente.

“Dessa forma, outras empresas além do banco no qual aquela pessoa tem conta vão conhecer a vida financeira daquele cliente. Se ele for um bom pagador, essas outras instituições vão oferecer um crédito mais barato para ele”, afirma. Assim, acrescenta, para se manterem competitivos, bancos e financeiras vão ter de diminuir as taxas.

Somente a entrada de novos participantes, como as fintechs, não será o suficiente, avalia Viriato, uma vez que essas empresas atuam em um nicho que não desperta o interesse dos bancos.

 

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